domingo, 5 de dezembro de 2010

Com Olhos de Ver

"And I'll try to find somethin' on this thing that don't means nothin' enough..."
Acendem-se as luzes, alguém liga o rádio de onde saiem as melodias de sempre, aquelas que desde há muito me acompanham nesta minha caminhada solitária. A plateia, essa está cheia de silêncios vazios, lugares onde ninguém se senta e onde ninguém faz barulho, para que se possam ouvir as melodias que saiem daquela telefonia velhinha que está à frente da cadeira. No centro do palco uma tela branca, mesmo ao lado da telefonia. Sons e imagens do que já passou, são as minhas recordações que coexistem em harmonia com as músicas, fazem delas a sua banda sonora. Uma cadeira, uma almofada azul. Sento-me e ponho os óculos, respiro fundo e abro os olhos. Vou recordar. Vou passar os olhos pelas imagens e tentar perceber onde é que parei o filme da outra vez. Vou ouvir as músicas e relembrar as sensações. Relembrar os desejos. Olhar para mim. A sala está vazia, e assim ficará. Este filme não quero partilhar, com ninguém. Vejo a primeira imagem, ouvi a primeira música. Chegou. Levantei-me e virei costas, apaguei a luz, desliguei o rádio, deixei que as imagens da tela passassem nas minhas costas. Não me voltei sequer. Afinal não quero recordar, não quero sentir, não quero ouvir. Quero dormir até se curarem as feridas, e depois quero acordar e voltar a sentir de novo, mas só as coisas boas, as más, essas, quero que fiquem para depois. Vou voltar ao quarto escuro onde me deixei cair um dia e não tive forças para me levantar. Vou-me deixar ficar lá, sentada no escuro, à beira da cama. Descansar os olhos e esperar que o tempo passe. Mesmo sabendo que ele não passa, vou esperar, e quando o Sol nascer vou agarrar em mim e voltar ao palco, tentar de novo, até conseguir conseguir ver as coisas com olhos de ver, até que recordar deixe de doer.

Sem comentários:

Enviar um comentário