quinta-feira, 28 de abril de 2011

Fake Empire

Sim, é. Se não o fosse a multidão que me rodeia teria vozes, em vez de ruídos, e eu ouvi-la-ias. Compreenderia o que me dizem, faria parte dela. Mas não, continuo perdida lá no meio, sem saber bem qual dos traseuntes contornar para passar, a atrapalhar-me com as suas sombras e os restos das suas vivências e experiências. Presa ao chão. Tem dias em que nem sequer me atrevo a andar, tal é o medo de ser pisada ou esmagada pelos egos gigantes que passam por mim e me olham de cima a baixo, com essa altivez e segurança que é também é minha. Sim, também as tenho, uso-as todos os dias, são muralhas à minha volta. São muralhas altas, imponentes, que não deixam ver o que se passa do lado de cá, dentro do império onde sou dona e senhora de mim. São perfeitas, funcionam, mas são falsas, e estão a cair. Não me deixam passear na multidão, deixam, mas distorcem as imagens e o som. Não as quero, mas preciso delas. É ambíguo, um dilema. Faz-me viver meia a dormir, num império irreal, ilusório e falso, que um dia cai de vez...



Já esteve mais longe.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Colada ao Chão.

Olhei pela janela e vi-a passar. Lá ia ela toda sorridente, luminosa, resplandescente. Vi-a passar, como sempre, mesmo ao lado. Estou sempre a fazê-lo. Em vez de sair de casa e ir atrás dela deixo-me ficar no sofá, e vejo-a pela janela. É triste, mas o medo de cair enquanto caminho é maior que a coragem de saltar pela janela e correr atrás dela. O pior é que sei que um dia ela vai e não volta, e eu vou estar condenada ao sofá e às vidraças cheias de dedadas. Se houvesse coragem no supermercado... Não é que eu tenha falta de coragem no geral, mas esta é uma coragem especial, desta eu não tenho. E preciso. Muito.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Segunda.

Passam as horas a correr enquanto, sentadas, fumamos cigarros e falamos do tudo, ou do nada, depende da disposição. Nem dou conta das nuvens a deslizar pelo céu, nem das pessoas que se passeiam pelas ruas, umas depressa outras quase em câmara lenta. Há turistas à nossa volta, às vezes oiço-lhes as vozes estrangeiras, demoro um bocado a reconhecer as linguas, a perceber o que dizem. Depressa deixam de ter interesse, já tu me arrancaste uma gargalhada ou me fizeste voltar a pensar. Fazes-me isso muitas vezes, sabes? Pensar. Fazes-me pensar naquilo que não quero, às vezes no que quero, mas é quase sempre no que não quero. Irrita-me a forma como me fazes rever, repensar, respirar fundo, às vezes suspirar. Irrita-me a forma como nos entranhamos nos tecidos das nossas peles, eu na tua e tu na minha. Parecemos duas velhas árvores coladas ao chão, cujas raízes se interlaçam umas nas outras e se seguram uma á outra, se apoiam sem ninguém ver, sem ninguém notar. É deliciosa a forma como podemos ser/estar, sem nos incomodarmos, percebendo-nos mutuamente. És, como já te tinha dito, um espelho.


Teve de ser, outra vez. E parece-me que não é a última, mas tenho-te como tenho poucos, e é preciso louvar isso e agradecer, muitas e muitas vezes.


Obrigada.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Bem-me-quer, Mal-me-quer.

Pétala a pétala.

Um passinho de cada vez.

Como o ponteiro dos segundos de um relógio.

Tic-Tac.