quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Friend of mine.


"Sim, pode ser. Meia hora e estou ai."
Agarrei nas minhas coisas e lá fui eu. Decidi que ia a pé, portanto sai três paragens de metro antes. Cheguei. Conversámos. Fomos ver uma exposição. Saimos. Sentámo-nos uma ao lado da outra, à sombra, porque ela não queria estar ao Sol, e por lá ficámos. Por momentos pensei que estivesse sozinha, mas não, ela continuava lá. Embrenhada na sua leitura. Era bonita. Por dentro e por fora. Não era perfeita. Tinha defeitos parecidos com os meus, tinha virtudes diferentes das minhas. Mas era bonita. Fiquei feliz por tê-la comigo, pelas gargalhadas que partilhavamos, pelos arrufos e pelos amuos. Era bonita, ela. Voltei-me para o meu proprio livro. Á minha volta o vento uivava as melodias do Outono que acabara de chegar. Passeava-se por entre os ramos das árvores e pelas canas da beira do lago. Em certas alturas parecia assobiar e era tão violento que arrancava as folhas das árvores apenas de um sopro só. Estava frio, o vento era frio. Levantei-me e sentei-me ao Sol, à beira do lago. Abri o meu livro e comecei a ler, dai a uma bocado já me tinha esquecido de tudo o que tinha à minha volta. Estava na aldeia do Ilidio, sentada à beira da fonte a segurar a corda da cabrinha para ela não fugir. De repente algo se mexeu entre as canas que estavam à minha beira, era um patinho amarelo. Não sei quando tempo estive ausente, perdida em pensamentos e devaneios, a olhar para o pequeno patinho que chapinhava na água. Quando dei conta já ela estava sentada ao é de mim, já não havia Sol e o vento soprava como se quisesse levantar as árvores. No ar, folhas, poeiras e o céu. Só. Tinhamos de ir, estava na hora.
Aquele ser bonito que estava comigo sorriu para mim, percebeu onde eu tinha estado, não se importou, sabe que é lá que sou feliz. Naquele lugar que é só meu. No mundo onde posso tudo. Posso ser e fazer tudo. Onde os patinhos falam e eu também consigo voar. Ela compreende e aceita a estranheza do eu, e ainda bem.

sábado, 25 de setembro de 2010

Xutos e Pontapés

Que dirias tu, se me visses hoje, meu caro? A tomar as minhas decisões, de nariz empinado e senhora de mim? É que continuas a olhar para mim sem me ver. Que dirias tu, se me visses hoje, com olhos de ver, meu caro? Pergunto-me se me reconhecerias sequer... Quando te disse adeus e obrigado fizeste de conta que não ouviste, e eu fiquei parada no meio do jardim à espera que reagisses. Nunca o fizeste. A noite caiu em cima de nós e nem uma vez tu me respondeste de volta. Será que algum dia te vais orgulhar de mim? Será que algum dia vais admitir que eu tinha razão? Que foi melhor assim? Dizer adeus e cortar o cordão umbilical? Já lá vão dois anos, quase três, e eu continuo à espera que mo digas. Cada vez que te ligo, cada vez que bebemos o nosso café, na mesa de sempre. Cada vez que me falas dela, e me dizes: "Oh Tita, tu nem sabes.", cada vez que passamos nos sitios por onde crescemos. Não deixaste de ser o meu melhor amigo, nunca. em vais deixar, mas estou aqui, na mesma, à espera que me digas o que eu preciso ouvir e o que tem que ser dito. O melhor disto tudo é que tu vais ler, absorver e ignorar... E no fim, talvez seja mesmo melhor assim. Afinal há coisas que não mudam, e nós nunca mudámos.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O teu riso é como música para os meus ouvidos... Que saudades da minha música!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A Tua Mão

"Quando abri a janela e senti a chuva na cara nem quis acreditar. Apareceste de noite, sem aviso, entraste sem bater e deitaste-te a meu lado... Assim, sem mais nem menos, sem pedir licença. Tal e qual como entraste em mim, na minha pele e no meu mundo. De manhã quando te vi ali, deitado na minha cama, despido de preconceitos e vergonhas, pensei que ainda estava a sonhar... Foi a chuva que me acordou e a tua mão que me puxou para ti..."

P.

domingo, 12 de setembro de 2010

Minha Querida Lisboa




Minha querida Lisboa,


Hoje vi o Sol chegar sentada mesmo no teu coração. Mais uma noite, uma daquelas em que as nuvens fogem do céu para deixar as estrelas espreitarem as pessoas que sorriem, cantam, e dançam ao som das músicas e dos barulhos que enchem as tuas ruas. Ainda choveu um bocadinho, uns chuviscos daqueles que não molham ninguém, mas que deixam as tuas ruas escorregadias... Sei bem como escorregam, eu cai nelas... Cai e deixei-me ficar sentada, a ouvir o rio e as suas ondas a chegar à margem, os carros a passar na estrada, os passos das pessoas que, apressadas, andam até chegarem onde devem ou querem ir. Também queria ir Lisboa. Queria ir, atravessar a multidão e chegar ao pedaço de mim que fugiu num avião. Ia e voltava, no mesmo dia, porque também não quero estar longe de ti. Enquanto me deixei estar, a ouvir o rio Tejo falar comigo numa língua indecifrável, pensei em mil coisas. Uma delas foi em como tu és um ser humano. Vá, és como um ser humano. Nasceste, foste crescendo, expandindo e alargando os teus horizontes. Foste vivida e corrompida pelas adversidades do tempo, pelas pessoas. És real, degradas-te aos poucos, sem deixar que isso te afecte a beleza e guardando toda a tua essência e todas as tuas histórias, escondendo-as nas fachadas dos prédios velhos e degradados... Tal e qual como um ser humano, que esconde as suas memórias por trás da sua pele velhinha e enrugada do fim da vida. És tão real. A diferença é que tu nunca vais morrer Lisboa. As pessoas que te vivem encarregam-se disso, renovam-te as fachadas, descrevem-te nas suas histórias... Eu sou uma delas Lisboa, porque és o pano de fundo da minha história preferida, aquela história onde eu sou uma princesa à espera do principe encantado...

sábado, 11 de setembro de 2010

"Sou a mariposa, bela e airosa, que pinta o mundo de cor-de-rosa, eu sou um delirio do amor...
Sei que a chuva é grosa, que entope a fossa,
Que o amor é curto e deixa mossa, mas quero voar por favor..."

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Pausa

Sozinha. No escuro. Não vejo nada á minha frente, nem uma luzinha, nada. Zangada. Revoltada. Não oiço uma única resposta aos meus chamamentos, nada. Apenas ecos de risos que enganam o silêncio. Parada. Não consigo andar, as minhas pernas não se mexem. Em breve vou deixar de respirar também. Sinto que o ar está a acabar. Medo. Não tenho força. Levaram-me o tudo. Deixaram-me o nada. Não quero.

-Põe na pausa, não quero ver mais.
-És tão medricas!
-Pois sou...