sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Porto de Abrigo

Ela sempre viveu iludida. Acreditava nas pessoas, tinha fé nelas, dava-lhes o céu e a terra. Vivia em busca do sorriso dos outros, para amá-los de deles cuidar. Pensava ela que isso bastava para ser feliz e que os outros iriam cuidar dela com a mesma dedicação que ela lhes tinha. Nunca se olhava ao espelho. Um dia, há exactamente um ano atrás, enquanto limpava a cela onde vivia, viu-se ao espelho. Nem quis acreditar, não se reconheceu. Estava pequenina, cinzenta, sem brilho. Nesse dia viu-se e lembrou-se de como era e de como sempre quis ser. Revoltou-se. Atirou com a esfregona pelo ar e fugiu da cela. Aos poucos foi crescendo, ganhou cor, recuperou o brilho. Fugiu e começou a ver o mundo pelos olhos dela e não pela televisão pequenina por onde queriam que ela visse, e por onde ela o viu, durante aquele tempo todo. Faz hoje exactamente um ano que ela se redescobriu, se reencontrou. Aprendeu a cuidar dela, antes de cuidar dos outros, e a escolher, meticulosamente as pessoas que queria de volta dela. Hoje ela é livre, tem os pés assentes na terra e sabe bem com quem contar, já não vive iludida. Arranjou um novo porto de abrigo, um que não fizesse dela uma prisioneira. Hoje o seu porto de abrigo é uma árvore, plantada no meio de um jardim para onde ela foge quando sente o mundo real tremer e desabar.
Obrigada.

1 comentário:

  1. Está simplesmente lindo Madrinha. És linda, única e uma rapariga muito especial. Sabes porque? Nota-se na tua escrita. És meticulosa, cuidadosa no uso de cada palavra e tentas alcançar sempre a perfeição em cada letrinha que esboças. Identifico-me assim um bocadinho muito contigo.

    Keep going :D
    A felicidade não está no fim da jornada, e sim em cada curva do caminho que percorremos para encontrá-la.
    Para sempre felizes !

    Ly <3

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