sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Minha Querida Lisboa

Minha querida Lisboa,
Descobri que sou como uma árvore. Tenho os meus pés enterrados no teu chão, como as raízes de uma árvore. O meu corpo é o tronco, e tal qual como um tronco, não me mexo. Os ramos são os meus braços, tocam o céu, as folhas, são pedaços da minha alma. Sei que pertenço aqui, não vou sair nunca, a menos que me arranquem daqui. Não quero sair. Gosto desta sensação, de pertencer a um sítio, de ter pessoas que me visitam, se abrigam em mim, como debaixo da sombra de uma árvore. Gosto. Só tenho um senão, um pequeno problema: chegou o Outono. Não estava à espera dele. Chegou e trouxe o vento. E não é que ele sopra com força? Têm sido vendavais atrás de vendavais, Lisboa. Sopra tanto que até assobia. Eu eu tento, com todas as forças, que o vento não me leve as folhas, mas não o consigo impedir. Está fora do meu alcance. Sinto-me despedaçada enquanto ser humano, nua enquanto árvore. Tem dias que o vento é tanto que sinto a cabeça andar à roda, e não consigo controlar os meus próprios braços, que teimam em tocar o céu. Frustração. É! Sou como uma árvore. Vou ficar aqui, no mesmo sitio, e com o passar do tempo e a força do vento, vou perder as minhas folhas, os meus pedacinhos de alma. Vou ficar aqui, e vou ser fustigada pelos vendavais furiosos que ai vêm. Porque os meus pés são como raízes, não se mexem daqui. Vem ai o Inverno, e eu aqui, de braços para o ar. Só espero que a Primavera de se despache a chegar, senão vou ficar, tal qual como uma árvore no Inverno, morta. Não, morta não, adormecida. Só me consola estar em casa, e ter pessoas que até mesmo no Inverno se vêm sentar debaixo dos meus braços, senão, que seria de mim Lisboa?

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