segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Egocentrismo



Era de manhã cedo, chovia. Era apenas aquela chuva-molha-parvos, como diz o povo, mas era chuva. Estava frio, um frio daqueles que nos ataca até aos ossos, nos gela tudo, até a alma. Eu gelei. Parei no sinal vermelho, abri a janela e respirei fundo, gelei. A música soava como soam os sons do eco: distorcida e longínqua, ouvia-a, mas não a percebia. Bati no fundo, senti o chão frio debaixo dos meus pés descalços. Havia uma porta do outro lado do quarto, uma porta fechada. Havia luz por trás da porta. Abri-a, e entrei. Por momentos a luz cegou-me, pensei que era aquela luz bonita que tanto me encantava, não. Era um espelho. Olhei com olhos de ver, estava lá alguém. Era pequenina, tinha olhos tristes e cabelos grandes, mas sorria tanto! Quase lhe conseguia ver a alma. Disse-me:


"Já tinha saudades tuas, há tanto tempo que não te via. Estou feliz por teres voltado."
"Sim, eu também..."


Piiiiiiii.... Uma buzina, o sinal está verde. Andei em frente e sorri.
Reencontrei-me, hoje, quando me perdi no fundo de mim.

domingo, 23 de janeiro de 2011

E na hora do adeus...

Quando acabei de ler aquelas letras deformadas por lágrimas que sabia serem tuas senti-me a desfazer. Tu viste-me, tu vias-me sempre. Em qualquer momento, em qualquer altura. A dormir ou acordado, tu vias-me. Acreditavas em mim, a todo e qualquer momento. Sempre o fizeste, pelos vistos ainda fazes.
Olho em volta, sinto-te aqui. Vejo-te nas paredes: o mesmo sorriso luminoso, os cabelos longos, lisos, mas desalinhados, as mãos pequeninas. Perfeição. Vejo a perfeição em cada defeito. Vejo os livros sem pó, as folhas amarrotadas no cesto dos papeis, os rascunhos. Vejo-te em cada flor, em cada folha seca que ficou esquecida no chão. Sinto-te em cada objecto, em cada espaço que está vazio aos olhos dos mortais. Onde foste? Tu viste-me, naquele dia. Eu pensei que não, baixei a cabeça e fugi assim que pude. Refugiei-me no grande autocarro amarelo que passou. Não te consegui enfrentar. Não consegui enfrentar esses olhos espelhados que me fazem ver o certo e o errado com tanta clareza; que me fazem querer fugir de mim mesmo e dos meus defeitos tão vazios de perfeição... Abro a porta do quarto, está tal e qual como sempre disseste que um dia seria: branco! O branco que contrasta com o castanho escuro do chão e o vermelho daquela tulipa vermelha que sempre teimaste em ter numa jarra. Não é decerto a mesma, mas é exactamente igual àquela que tinhas na mão no dia em que correste atrás de mim na estação. É perfeita! É como tu. Onde foste? O avô sempre disse que o bom filho à casa torna. Bem sei que não sou teu filho, mas voltei, e tu não estás. Vou sentar-me aqui, tens uma cadeira de baloiço, como sempre disseste que ias ter. És teimosa. Sempre foste, nunca deixaste de o ser.
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sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Felicidades

Amendoa Amarga + Amigos + Música


É perfeito! Quais contos de fadas, quais "quês"! Há sensações no mundo real que são tão melhores que as do imaginário onde teimas em viver Alice!!!

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

E na hora do adeus...

"Quando olhei pela janela chovia tanto que tudo parecia distorcido, como numa aguarela. Parecia que estava a ver o mundo pelos óculos da avó, tudo tinha uma forma diferente e sem linhas, estava tudo turvo. Pensei para mim que o céu tivesse a chorar as lágrimas que eu não conseguia verter, tolice! Como se fosse assim tão simples... Mas chovia tanto! Tanto! E eu quero chorar, tanto, tanto! Mas não consigo. Sinto o peito apertado, apertadinho, mas não. Não sai nada, nem a voz me sai. Também queria gritar, não consigo! É um sufoco e uma ironia. Quantas foram as vezes que quis parar e nada, as lágrimas brotavam-me dos olhos tal como as gotas caiem das nuvens. Estou cansada deste mundo paralelo em que vivo. As pessoas parecem estar noutro plano, como que em câmara lenta... E eu, cá de fora, estou cansada de ver este filme em slow motion...
Já partiste há tanto tempo, tanto que já perdi a conta aos dias. Perguntei-me tantas vezes onde estavas que acho que gastei as palavras. Usei-as até estarem usadas e rotas e desfeitas. Nunca me esqueci desse dia, em que viraste costas e entraste naquele autocarro vermelho, enorme e imponente. Não sabia para onde ias, aliás, nunca soube. Disseste-me adeus e até sempre. Nunca mais te vi. Na hora do adeus soube que nunca ia amar ninguém como a ti, que nunca ia existir tamanho amor. Era como aqueles das histórias que o avô costumava ler, ainda é. Nunca mais te voltei a ver, até ontem. Trazias contigo o mesmo sorriso, o mesmo cabelo desgrenhado, as mesmas mãos, sempre tão maiores que as minhas. Não consegui pensar, não consegui reagir, não consegui sequer respirar. Tiraste-me o folego, como de tantas outras vezes. Não consegui esconder o sorriso, muito menos o brilho no olhar. E de repente um grande autocarro amarelo pôs-se entre nós, parou mesmo à frente do teu olhar. Desapareceste. Outra vez... "
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sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Minha Querida Lisboa

Minha querida Lisboa,

Oiço música em todo o lado. Em cada espaço outrora preenchido ora pelo silêncio, ora pelos teus sons citadinos, ouve-se agora música! As tuas paisagens têm de novo uma banda sonora e os teus cheiros são acompanhados de melodias. Melodias que me enchem a alma de luz e cor, que me fazem sorrir e me aconchegam, que me fazem recordar as coisas boas que a vida já me deu. Hoje recordo a infância, Lisboa. Lembras-te de mim? Quando era pequenina e afugentava os pombos aos pontapés? E quando ia de mão dada com o avô descer a Av. da Liberdade, a comer um gelado daqueles dos senhores dos carrinhos da mota vermelha? Lembras-te? Eu lembro... Não mudaste nada! Houve tempos em que não tinhas músicas nas ruas, mas agora voltaste a ter. Estão um bocadinho diferentes, as músicas, são outras agora, mas igualmente deliciosas! Sabem-me tal e qual me sabia o gelado nas tardes de Domingo em que o avô me levava a passear, sabem-me à perfeição!
Tinha saudades tuas, Lisboa.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Lição de Voo nº1

"Não me deixes ver para além de ti, não faz sentido."



Não sei explicar, é uma sensação que ultrapassa o racional. É demais aos olhos comuns. Não a veêm, e nem sequer aqueles mais sensiveis a conseguem sentir. É invisivel e silenciosa. Tem alturas em que é calma e outros em que é um frenesim. É gelada na pele quente, e ferve na pele fria. Tenho-a nas mãos, nos lábios, nos olhos, nos cabelos... Não sei como, nem porquê, só sei que a tenho comigo, me corre nas veias, me invade cada centimetro do corpo e da alma. Só sei que com ela consigo tocar um avião sem tirar os pés do chão.


P.

Felicidades
























































Obrigada por tanto me fazerem sorrir...