domingo, 23 de janeiro de 2011

E na hora do adeus...

Quando acabei de ler aquelas letras deformadas por lágrimas que sabia serem tuas senti-me a desfazer. Tu viste-me, tu vias-me sempre. Em qualquer momento, em qualquer altura. A dormir ou acordado, tu vias-me. Acreditavas em mim, a todo e qualquer momento. Sempre o fizeste, pelos vistos ainda fazes.
Olho em volta, sinto-te aqui. Vejo-te nas paredes: o mesmo sorriso luminoso, os cabelos longos, lisos, mas desalinhados, as mãos pequeninas. Perfeição. Vejo a perfeição em cada defeito. Vejo os livros sem pó, as folhas amarrotadas no cesto dos papeis, os rascunhos. Vejo-te em cada flor, em cada folha seca que ficou esquecida no chão. Sinto-te em cada objecto, em cada espaço que está vazio aos olhos dos mortais. Onde foste? Tu viste-me, naquele dia. Eu pensei que não, baixei a cabeça e fugi assim que pude. Refugiei-me no grande autocarro amarelo que passou. Não te consegui enfrentar. Não consegui enfrentar esses olhos espelhados que me fazem ver o certo e o errado com tanta clareza; que me fazem querer fugir de mim mesmo e dos meus defeitos tão vazios de perfeição... Abro a porta do quarto, está tal e qual como sempre disseste que um dia seria: branco! O branco que contrasta com o castanho escuro do chão e o vermelho daquela tulipa vermelha que sempre teimaste em ter numa jarra. Não é decerto a mesma, mas é exactamente igual àquela que tinhas na mão no dia em que correste atrás de mim na estação. É perfeita! É como tu. Onde foste? O avô sempre disse que o bom filho à casa torna. Bem sei que não sou teu filho, mas voltei, e tu não estás. Vou sentar-me aqui, tens uma cadeira de baloiço, como sempre disseste que ias ter. És teimosa. Sempre foste, nunca deixaste de o ser.
...

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