quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

E na hora do adeus...

"Quando olhei pela janela chovia tanto que tudo parecia distorcido, como numa aguarela. Parecia que estava a ver o mundo pelos óculos da avó, tudo tinha uma forma diferente e sem linhas, estava tudo turvo. Pensei para mim que o céu tivesse a chorar as lágrimas que eu não conseguia verter, tolice! Como se fosse assim tão simples... Mas chovia tanto! Tanto! E eu quero chorar, tanto, tanto! Mas não consigo. Sinto o peito apertado, apertadinho, mas não. Não sai nada, nem a voz me sai. Também queria gritar, não consigo! É um sufoco e uma ironia. Quantas foram as vezes que quis parar e nada, as lágrimas brotavam-me dos olhos tal como as gotas caiem das nuvens. Estou cansada deste mundo paralelo em que vivo. As pessoas parecem estar noutro plano, como que em câmara lenta... E eu, cá de fora, estou cansada de ver este filme em slow motion...
Já partiste há tanto tempo, tanto que já perdi a conta aos dias. Perguntei-me tantas vezes onde estavas que acho que gastei as palavras. Usei-as até estarem usadas e rotas e desfeitas. Nunca me esqueci desse dia, em que viraste costas e entraste naquele autocarro vermelho, enorme e imponente. Não sabia para onde ias, aliás, nunca soube. Disseste-me adeus e até sempre. Nunca mais te vi. Na hora do adeus soube que nunca ia amar ninguém como a ti, que nunca ia existir tamanho amor. Era como aqueles das histórias que o avô costumava ler, ainda é. Nunca mais te voltei a ver, até ontem. Trazias contigo o mesmo sorriso, o mesmo cabelo desgrenhado, as mesmas mãos, sempre tão maiores que as minhas. Não consegui pensar, não consegui reagir, não consegui sequer respirar. Tiraste-me o folego, como de tantas outras vezes. Não consegui esconder o sorriso, muito menos o brilho no olhar. E de repente um grande autocarro amarelo pôs-se entre nós, parou mesmo à frente do teu olhar. Desapareceste. Outra vez... "
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