terça-feira, 19 de junho de 2012

Efemeridades

“Às vezes dá vontade de ser fumante. Acender um cigarro para ter nas mãos o objeto palpável do meu pensamento. Numa tragada preencher o corpo leve com a fumaça e invadir os pulmões com a miséria do mundo. Na outra esvaziar o peito de todas as dores e aproveitar o prazer de um breve momento”

Há tempos li isto. Não sei quem escreveu, nem com que intenção, mas explica com todas as palavras a razão do meu amor por um cigarro. Um. Só um. Nunca um a seguir ao outro. Um num jardim. Um à beira do meu rio Tejo. Um no meio do verde daquele sítio mágico onde me enchem de música. A efemeridade daquele cigarro que nos faz parar e pensar a cada trago, como se o fumo que sai em seguida na nossa expiração fossem a produção de uma qualquer conclusão a que chegámos. Quando retemos a nossa respiração e deixamos o fumo entrar por nós a dentro é como se não sentissemos mais as dores intelectuais que povoam o nosso pensamento e as emocionais que povoam o coração e nos permitissemos a nós mesmos deleitar-nos o que somos. É quase mágico, acorda-nos o pensamento, láva-nos as dores da alma. É breve e fugaz, como o primeiro beijo, mas poderoso e sentido como o último, aquele da despedida.

sábado, 26 de maio de 2012

Minha Querida Lisboa

Minha querida Lisboa,

Sempre ouvi dizer que o amor vira tudo do avesso: transforma os ignorantes em inteligentes e estupidifica os que de tudo sabiam. Tenho vindo a confirmar isso mesmo. Actualmente sou uma ignorante, sem liberdade de expressão, sem independência.Tudo porque o amor não me deixa exprimir, quer tudo para ele, quer os meus olhos,as minhas mãos, a minha boca e o meu pensamento. Quer o meu sorriso e o meu abraço, a minha paciência e sapiência. Quer as minhas entranhas e a minha derme, levando agarrada a epiderme. Quer uma compreensão acima da média. Quer-me inteira, e eu sou só pedaços, pequenos pedaços de vidro partido.

domingo, 6 de maio de 2012

Mãe

A ti, que vais ser sempre a minha heroína, a minha rainha, a minha fada ou a minha mais-que tudo. Um amo-te e um abraço chegam bem. Ou então uma festinha tua na minha mão.

"MÃE, CADA PALAVRA QUE ME ENSINASTE REPETE O TEU NOME MIL VEZES"

(in A Casa, A Escuridão.)


sexta-feira, 4 de maio de 2012

P.

Podiamos ser só eu e tu e os nossos cafés e os cigarros. Podiamos ser só eu e tu e a música e o barulho dos aviões a passar por cima do teu telhado. Podiamos ser só eu e tu e as ruas da minha Lisboa e os trilhos do teu sítio. Podiamos ser só eu e tu, nós, e o resto do mundo deserto, que viveria feliz para sempre <3

P.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Burra

Sua Burra! Sim, sim, tu. Tu que estás aí, com olhos olhos vermelhos e alagados!! Oh tu!! Sim, sim, tu. Tu que estás aí a deixar a vida passar-te ao lado a olhar para o amor errado! Sim, sim, o amor errado. Há alturas para tudo, pois, e esta é aquela em que se olha para o amor-próprio! Sim, já o conheceste? Não!? Pois bem, está na altura de lhe ligares, e de dizeres olá. Sorri para ele, sff. É um sábio, merece o teu maior sorriso e o teu maior respeito. É! Oh, estás-me a ouvir??! Pára! Levanta-te daí e anda! Há um mundo lá fora, ainda não o conheceste todo, estás à espera do quê!? Não sejas Burra! Tenta, luta, grita, bate, morde, revolta-te! Qualquer coisa, mas reage! Olha, levanta lá a cabeça, vá... Não fiques assim. Sabes, isso passa... Eu prometo que passa!

domingo, 18 de março de 2012

Vontades

E hoje só quero ouvir as gargalhadas barulhentas e as conversas animadas daquele silêncio que costumamos partilhar os dois.
P.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Uma flor e uma carta de amor.

Quando somos pequeninos damos valor a coisas que ninguém liga: aquele peluche velho e feio que dorme conosco todas as noites sem sair do nosso lado; aquela avó que nos dá doces e nos estraga os dentes, que nos deixa ver todos os desenhos animados que queremos em vez de fazermos os trabalhos da escola; aquele avô que nos ensina a andar de bicicleta e que nos levanta quando caimos em cima de pedras e que mesmo que haja sangue em todo e qualquer pedaço de tecido das nossas calças nos diz "isso não é nada!"; ao lanche feito de pão com manteiga e uma caneca de leite; às canetas coloridas que usamos para ointar em sitios menos próprios como nas mesas ou nas paredes; gostamos de imitar as vozes dos animais ou dos comboios e usamos uma vassora para fazer de cavalo e passear por um mundo encantado que só nós vemos... Quando somos pequenos vemos tudo com outros olhos, guardamos imagens tão diferentes das que guardamos agora, cheiros, emoções. É tudo tão mais fácil, inclusivé o amor. Quando eu era pequenina o amor resumia-se a um beijo na bochecha e a um pão com manteiga ou oas bolicaos que eu comprava e não comia (nem sequer gostava deles) para dar ao meu namorado, fui crescendo e passei do rosa ao preto, o amor morreu, deixou de existir. A primeira paixão foi sofrida, o primeiro amor penoso. Quis porque quis deixar de sentir, e consegui. Até que ele apareceu, com o seu génio diferente, calado, timido, e com tanta força. Não era amor, nem era paixão, pelo menos não era nem só um, nem só o outro, eram os dois. São. São simples, no melhor dos sentidos, sem deixarem de ser avassaladores. Arrancam-me suspiros e levam-me os sentimentos ao extremo. É assustador e faz com que faça coisas assustadoras, poderia dar uns quantos exemplos para que o mundo percebesse o tipo de insanidades e disparates que este sentimento tão complexo, e no entanto tão simples, me faz fazer e dizer, mas isso seria expor a intimidade que me é tão preciosa. Além disso não acho que quem me lê precise realmente dos pormenores, concerteza têm os seus próprios pormenores. É o melhor do mundo, este sentimento. Faz-me ver as coisas com outros olhos, com os olhos cor-de-rosa de quem dá importância às pequenas coisas da vida, que acabam por ser gigantescas e ganhar toda a importância e marcam a diferença neste mundo tão cinzento onde vivi durante tanto tempo. Uma palavra, um sorriso, um gesto, uma mania, um pormenor que só ele conhece, uma lágrima no canto do olho limpa com a parte de trás da mão, pão com manteiga arranjado com tanto carinho, um café e uma amêndoa amarga, uma flor e uma carta de amor...
Bastas-me, P.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Assobia

A carga emotiva que aquele tom de voz transportava fazia com que os seus olhos se enchessem de lágrimas. Emocionava-se com aquele som que parecia invádi-la até aos confins do seu próprio corpo, da sua própria alma, como se não houvesse mais nada à sua volta, como se nada mais tivesse importância. Naquele momento, a sua atenção era só e apenas para o som daquela voz tão imponente, mas tão familiar. O som do passado, o tom de voz das recordações mais queridas, mesmo que nunca se tivesse dado conta de que o fossem... Outra vez o som, um assobio! Aquele som, aquela melodia tão conhecida. Levanta-se a correr e abre a porta, lá vai ela escada acima, seguindo o som. Quando entra na sala vê o rosto da voz, tão mais novo do que ela se lembrava, quase que se esquece que ele não está cá, que já não vive aqui. Sorri, lembra-se do dia emq ue filmaram aquelas imagens: "Vai devagar, Taninha!", "Sim avô.", mas não foi. Foi tão depressa que caiu e magoou um joelho, nada de importante, mas ainda tem a marca, é uma marca velha já. Esta é muito mais recente, ainda nem um ano tem.

"Diz adeus para a câmara!"

Eu respondo-te do lado de cá:
Olá avô, tenho saudades tuas.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Quinta

- Onde andas tu? - pergunto-me eu, automaticamente, quando as horas do meu dia teimam em não passar e eu em vez de estar numa esplanada a beber Ice Tea de pêssego e a fumar cigarros enquanto tu dás golinhos na tua Coca-Cola, estou aqui, sentada a olhar para o tecto do meu quarto. Não há televisão aqui, para me distrair, mesmo que houvesse não havia de a ligar. Dava-lhe muito pouco uso, acho que me servia apenas de lâmpada quando acordava de noite e precisava de uma luz para me conseguir mover entre os mil artefactos inúteis que habitam o meu quarto. Não ninguém para conversar. Mesmo que houvesse queria mesmo era conversar contigo, ser totalmente compreendida por outro ser humano é uma coisa rara que contigo acontece a toda a hora, acho que por isso é normal que me deixe ficar com esta teimosia de falar só e apenas contigo sobre as minhas teorias descabidas e os meus sonhos e planos. É que nem uma companhia! Tenho a gata, mas claro, está a dormir ao Sol. E que Sol! E eu aqui... Importas-te de pegar no telemóvel e ligar-me a dizer: "Puto, vamos beber café!", sff?

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Minha Querida Lisboa

Minha Querida Lisboa,

Lá do alto da varanda vê-o, ainda que meio desfocado, e depressa lhe assaltam à memória mil e uma recordações. Recorda os beijos, os abraços e os aromas, a música que os envolve sempre que se tocam, os sorrisos e as gargalhadas. Um minuto, aquele que ele leva a olhar para cima e a reencontra-la com um olhar, parece uma hora. Ela sorri-lhe, ele sorri de volta, e, nesse preciso momento, ela acorda.

Parece que passaram três anos, mas só passaram três dias, Lisboa, e eu mal vejo a hora do seu regresso.



P.