terça-feira, 8 de outubro de 2013

Minha querida Lisboa

Minha querida Lisboa,

Sabes quem vi chegar hoje? O Outono... Sabias que na Língua Portuguesa, por causa do novo Acordo Ortográfico, o Outono perdeu a sua maiúscula? Pois, eu sei, é feio, mas eu deixei-lha lá estar. Parece-me importante, é um ser único, o Outono. Teimo em personificá-lo num vendedor de castanhas, de barba e com uma boina. Parece-me que é simpático, melódico e suave. Compreensivo e paciente, vem ajudar as pessoas a aceitarem melhor a transição entre os dias quentes do Verão e os dias gelados do Inverno (também estes dois perderam as suas maiúsculas, mas eu insisto em deixá-las no sitio, a todas). Sopra para as árvores todos os dias, até as suas folhas cairem, devagarinho, devagarinho. Vai toldando o sol para nos ajudar a aceitar que ele também tem que ir descansar e vai-nos molhando os pés para nos irmos habituando ao frio. É uma bela ajuda. 
Hoje fui apanhar o resto do sol, sentei-me numa esplanada e pedi um café. Quando dei conta estavam a cair pequenas folhas, foi quase uma chuvada de folhas. Percebi que era ele. Soprou primeiro a árvore mais próxima de mim, depois a outra ao lado, depois a que estava lá ao fundo, e aos poucos o chão foi-se enchendo de pequenas folhas amarelas, castanhas e laranjas. Já tinha saudades dele...

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Poesia

"A cidade estava deserta,
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte...". Fui eu, confesso. A cidade estava deserta e eu queria ver-te e ter-te ao pé de mim. Como tardavas em chegar desatei a escrever-te em todo o lado, na esperança de que andasses mais depressa ao ver o teu nome ao longe. Ainda pensei gritar, mas já me doía a voz desde o último chamamento. A tua distância e a tua ausência magoam-me profundamente a alma, deixam-me triste e desanimada, como se nunca mais fosse voltar a ver o Sol. Ver-te chegar faz com que as borboletas que vivem no meu estômago esvoacem com toda a força das suas minúsculas asas! É bom, é refrescante. No entanto, cada vez que viras costas, por muito que eu te sorria quando olhas para trás, parece que há uma parte de mim que vai contigo. É uma sede, uma fome, uma vontade, uma necessidade de ti que se instala em mim e que não é saciada até à próxima visita. No dia em que voltámos costas um ao outro e eu pensei que nunca mais te ia ter de novo, prometi a mim mesma que não iria permitir às borboletas que esvoaçassem de novo quando te pusesse a vista em cima. Apaguei-te e arranquei-te de mim e das minhas coisas, pensava eu... Rebelaram-se, desobedeceram-me e assim que os teus olhos pousaram nos meus, e os meus nos teus, começaram a bater as asas desenfreadamente. Pensei que não iam parar! Zanguei-me imenso com elas, quase que lhes deixei de falar... No dia em que acabou a nossa distância e voltamos a estar pertinho um do outro pedi-lhes desculpa e percebi que nunca mais as iria impedir de se exprimirem: elas estavam apenas a ser fieis ao meu coração.
O amor é um sentimento sobre o qual todos escrevem, todos opinam, todos dizem e desdizem. A uns agrada, a outros maltrata. O ser humano, que de todos os animais é o mais complicado, sente-o de formas inimagináveis. Cada um é como cada qual, e cada um o sente de forma diferente. O meu amor não é igual ao teu e o teu não é igual ao meu. Com isto vem a obrigação de respeitar o amor que cada um sente. Respeitá-lo pelas suas igualdades e desigualdades é um dever, e todos temos os nossos direitos e deveres! Eu aprendi a respeitá-lo, por isso mesmo é que anseio por ver-te chegar, trazido pelas rajadas frias do vento de Inverno. És a minha poesia. Só em ti consigo dar largas à minha criatividade e amar-te todos os dias de forma diferente, inovadora, distante de todos os clichés, e quando uso os clichés consigo sempre dar-lhe uma pitada de novidade. Só para ti é que consigo arranjar novas palavras que consigam transmitir e conter nelas todo o amor que te quero dar, escrever e dizer. A tinta que sai a jorro da ponta da minha caneta ganha vida e estica-se e encolhe-se para te escrever o meu amor. És a minha verdade. És o amor que grito e canto para todos ouvirem, és a poesia que escrevo para que os olhos de quem a lê consigam sentir o calor do amor e ver a beleza deste estado de devaneio constante. És. Somos, e essa é a melhor parte.